A burrice dos nossos estudantes universitários de ciência é uma das
maravilhas do universo. Eu estava revendo agora mesmo o vídeo no qual
explico que é uma tolice a idéia popular de que tudo na ciência se
descobre “por experiência”. Dei ali como exemplo a noção newtoniana de
“espaço absoluto”, que é inteiramente apriorística, impossível de se
obter por experiência, e da qual tudo o mais na teoria de Newton
depende. Em resposta vieram várias mensagens enfezadas, num tom de
superioridade infinita, todas de universitários, DEFENDENDO essa noção,
como se eu a tivesse ATACADO. É analfabetismo funcional galopante.
Os comentários a esse vídeo, sozinhos e sem mais nada, já ilustram o
fracasso total das nossas universidades. São dezenas de mensagens, e
nenhuma — nem uma única sequer — mostra ter apreendido o ponto em
discussão: a noção de espaço absoluto é apriorística ou não é?
Outro panaca disse que eu estava defendendo a teoria da terra plana.
Houve até um imbecil que alegou que a noção
era confirmada pela experiência, o que é falso, mas mesmo que fosse
verdadeiro seria confundir validação com origem.
Nenhum percebia sequer que nenhuma experiência poderia confirmar AO MESMO TEMPO o espaço absoluto e a relatividade einsteiniana.
Truque bem pirroliano: Os carinhas pegam um vídeo meu qualquer sobre
ciência, colocam o título “Terra plana”, metem no youtube e então
espalham que defendo a teoria da terra plana. O número de idiotas
universitários que acreditam é incalculável.
Se depois de seis meses de aulas no COF o aluno ainda não entendeu
que sem noções apriorísticas não existe ciência, ele é um caso perdido.
Mas em qualquer universidade brasileira você pode chegar a um doutorado
em física ou biologia sem nem saber que essa questão existe.
Uma das mais interessantes discussões científicas do século XX foi o
confronto entre Einstein e o físico americano Herbert Ives, que defendia
a velha noção newtoniana de tempo absoluto, compreendida como
simultaneidade universal. Nunca vi um estudante universitário brasileiro
que tivesse a menor noção disso. Não é preciso compreender todos os
passos matemáticos da demonstração para perceber o quão sérios eram os
argumentos de Ives.
O de C
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