Essa inconsistência de base pode levar mesmo os melhores cérebros liberais a desatinos cômicos. Darei exemplos mais tarde.
Se a política É efetivamente alguma coisa, isto é, se tem alguma consistência ontológica como aspecto da realidade, então é forçoso reconhecer que a má política é tão política quanto a boa, isto quando não é mesmo uma condição para que a boa se realize.
Um professor liberal a quem muito aprecio, e cujo nome por isso mesmo omitirei, declarou outro dia que a violência verbal nas discussões políticas no Brasil chega a ser uma espécie de canibalismo. Mas haverá violência verbal maior do que chamar de “canibal” quem não se enquadre no modelo de discussão política que achamos desejável?
Jairo Alves Paralaxe cognitiva, professor Olavo de Carvalho?
Os marxistas têm o mais profundo desprezo pelo modelo da política bem arrumadinha, humana e polida que encanta a mente liberal, mas sabem usar esse modelo como camisa-de-força para aprisionar o adversário na malha das suas próprias contradições. Todo o “politicamente correto” é um ardil desse tipo.
A coisa mais idiota que um cérebro humano pode fazer, e que muitos brasileiros acham a mais alta realização intelectual possível, é pensar tudo em termos de “pró” e “contra”. Por exemplo: sou liberal ou antiliberal? Na medida em que compartilho dos ideais liberais, sou liberal. Na medida em que não os confundo com a realidade, sou antiliberal. Não vejo como resolver essa contradição, porque ela não está em mim e sim na própria mente liberal tal como a enxergo.
Em “Conhecimento e Política”, seu primeiro livro, que é o melhor da sua produção e na verdade o único que merece ser lido, o dr. Roberto Mangabeira Unger faz também um exame crítico da mente liberal, mas confundindo, o tempo todo, política liberal com idéias liberais, ou seja, exemplificando na sua própria pessoa os vícios que enxerga na mente liberal. O “e” no título do livro expressa uma síntese confusa e não a distinção que parece prometer.
O de C
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