Como a vida é difícil no Brasil! A gente vê isso nas pequenas e
grandes coisas. Até o impeachment, miserável prêmio de consolação pela
perda dos objetivos maiores do movimento popular, está tendo de ser
arrancado a fórceps, num processo longo e humilhante, entre choro e
ranger de dentes, Na escala da vida pessoal, a gente vê que os pobres
conseguem ter logo as suas casinhas, porque compram um terreno baratinho
e vão construindo tijolo por tijolo, mas a classe média, que não pensa
pela realidade e sim pelos estereótipos da propaganda, passa a vida
inteira sonhando com o milagre da casa própria sem poder realizá-lo,
enrolada em planos bancários mirabolantes que elevam uma porcaria de
apartamento ao preço de um castelo na França e nunca terminam de ser
pagos. O pior é ver que o modelo brasileiro de tomar no cu foi
implantado na América pelos Frannie May e Freddie Mac, pelos Irmãos
Lyman e toda uma corja de banqueiros ladrões. Em 1986, quando vim aqui
pela primeira vez, os imóveis eram tão baratos que a coisa dava inveja.
Agora o mercado imobiliário americano está bastante brasilianizado e
todo mundo está se fodendo que é uma beleza.
Lembro que, nos anos 90, vi o anúncio de um neguinho vendendo um
castelo no interior da França pelo equivalente a 300 mil reais -- o
preço de um barraco no Morro Dona Marta, e pensei: -- Ser brasileiro é
viver com uma piroca enterrada no cu por tanto tempo, que você acaba
achando que ela é parte do seu organismo.
Esses bancos demagogos que oferecem empréstimos imobiliários a quem
não pode pagar só servem para uma coisa: o sujeito não paga mesmo, o
banco toma a casa e a vende, meio estragadinha, por um décimo do preço. É
uma redistribuição de renda, mas não para o bolso de quem a queria em
primeiro lugar.
Continuando: Aí vem uma imobiliária (de propriedade do próprio banco,
é claro), compra a casa baratinho, reforma e vende por vinte vezes o
preço original. O banco humanitário redistribui renda para si mesmo.
A única vantagem é que às vezes vem um cidadão e compra a casa antes
do banco chegar lá. Isso acontece. Eu mesmo comprei assim uma casinha
para o Pedro, por uma micharia.
O de C
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