Conheci um sujeito que, abandonado pela noiva no dia do casamento, pirou e começou a achar que era transexual. Passada a tristeza, esqueceu a idéia.
Andrei Figueiredo Eu gostaria de saber de onde ele ligou alho com bugalhos! Emoticon unsure
Olavo de Carvalho Andrei Figueiredo
O mecanismo é simples e bem conhecido em psicopatologia: a depressão
gera um delírio de onipotência mediante o qual o doente busca compensar a
perda transformando-se no objeto perdido.
Não posso dizer que o tal fake não fez nada de útil. Com essa história de "Jean Paul Sartre", ele me lembrou a oportunidade de voltar a pensar num autor que parei de ler há quase meio século, e que é talvez o exemplo mais interessante de como se pode, com alguma destreza verbal, fazer toda uma filosofia da autoconsciência sem ter autoconsciência nenhuma.
O Jean-Paul Sartre histórico foi abusado sexualmente na infância. Toda a sua filosofia é uma vingancinha, nada mais.
Jean-Paul Sartre é um autor para adolescentes.
Se valesse a pena analisar logicamente a filosofia de Jean-Paul Sartre, bastaria, para reduzi-la a pó, negar a sua premissa fundante, que é o dualismo cartesiano das substâncias. Quem aprendeu com Aristóteles e os escolásticos que a alma não é uma substância distinta e sim a forma do corpo não pode ler sem rir a descrição que Sartre faz do ato sexual, que Roger Scruton, por excesso de generosidade, considera "um paradigma da fenomenologia", mas que não passa de uma fantasia de menino malvadinho intoxicado de dualismo. Tanto que essa descrição se prolonga, sem alterar-se, na do sadomasoquismo, o que nos revela que Sartre jamais conheceu o sexo senão pelo lado sadomasoquista. Isso basta para mostrar que no estudo da sua obra o enfoque psicopatológico vale mais que a análise lógica.
O que pode confundir os incautos é que Sartre camufla o dualismo de Descartes sob a terminologia hegeliana do "em si" e do "para si" em vez de dizer simplesmente "corpo" e " alma".
Levar Jean-Paul Sartre demasiado a sério é prova de imaturidade.
Quanto mais uma filosofia, para ser compreendida, requer o conhecimento de peculiaridades da psicologia do seu autor, pior ela é. Pouco sabemos da psicologia de Platão, Aristóteles ou Sto. Tomás, e até hoje aprendemos com eles. Já para entender Nietzsche ou Sartre precisamos estudar cada punheta que eles tocaram na adolescência.
Uma filosofia tem de possuir em si mesma o fundamento da sua inteligibilidade. Este critério basta para jogar no lixo noventa por cento da filosofia moderna.
Se a alma fosse uma substância separada do corpo, seria impossível compreender qualquer coisa da psicologia de um ser humano pela sua expressão corporal.
Sartre explica o "post coitum triste" como resultado da vergonha que o "para si" (consciência) sente por haver sacrificado sua liberdade às exigências do "em si" (corpo). Mas quem disse que a compulsão sexual vem do puro corpo? Onde surgem as imagens sensuais e oníricas que nos põem no encalço da satisfação sexual? Se fosse no corpo enquanto tal, separado da consciência, nem repararíamos nelas, como não reparamos no funcionamento das nossas glândulas de secreção interna. É na consciência que surge e se elabora o desejo, que em seguida o ambicioso "para si" incumbe o inocente "em si" de realizar para satisfazê-lo. A consciência pode deleitar-se em fantasias sexuais por horas e dias seguidos, mas o corpo é débil e só pode satisfazê-las por uns poucos segundos. O "post coitum triste" expressa apenas a decepção da presunçosa consciência com o pobre instrumento carnal que não consegue jamais realizar satisfatoriamente as suas ambições.
Em comparação com as fantasias que o preparam, todo orgasmo é michuruco por definição.
Sendo a forma do corpo, a alma contém em si, de maneira simultânea,todas as possibilidades do corpo, mas ele, não sendo determinado só por ela e sim por todo o quadro espaço-temporal da existência terrestre, só pode realizá-las em escala muito limitada e um pouquinho de cada vez. A tristeza da alma no mundo terrestre não vem de que ela "se aliene" no corpo, mas de que o corpo a frustra e decepciona continuamente, por ser desprovido daquele toque de imortalidade que a alma antevê em si mesma e do qual ela desejaria, em vão, que o corpo desfrutasse também. O "post coitum triste" vem do fracasso de um sonho de imortalidade física que se desfaz repentinamente após o orgasmo. Se em vez de raciocinar dedutivamente a partir dos conceitos de "em si" e "para si", Sartre tivesse seguido a lição de seu mestre Husserl e examinasse a experiência real, teria compreendido isso.
O corpo é somente a versão espaço-temporal da alma imortal. Ela o abrange e transcende. Ele a manifesta mas não a abrange nem muito menos esgota.
O de C
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