Sempre achei que só gente muito inferior, mentalmente, formasse uma
imagem das pessoas pela raça em primeiro lugar, e só bisbilhoteiros a
formassem pelos hábitos sexuais delas. Gente normal passava por cima
desses dois detalhes, por demasiado óbvio o primeiro, particular e
íntimo o segundo, e dirigia seu olhar a qualidades psíquicas, sociais e
intelectuais mais interessantes e indivdualizadoras. Mas agora são as
pessoas mesmas que fazem da sua raça ou dos seus costumes sexuais uma
espécie de identidade, e os exibem desde o primeiro contato como cartões
de visita, expulsando suas qualidades mais individualizadoras para um
segundo-plano discreto ou mesmo desprezível. O politicamente correto
rebaixou as relações humanas ao nível de uma impessoalidade coletiva
quase animal.
Quando eu era criança, minha casa vivia cheia de gente preta, porque
uma das minhas tias era comadre do Adhemar Ferreira da Silva, o campeão
brasileiro de salto triplo. Anos mais tarde, quando pela primeira vez
alguém me sugeriu que as pessoas deveriam escolher suas companhias
predominantemente pela raça, a idéia me pareceu tão esquisita que nem
mesmo a entendi direito. Hoje em dia essa idéia só parece natural porque
as pessoas já não sabem o que quer dizer "natural".
O de C
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