Basta alguma experiência da vida, mesmo com pouco ou nenhum estudo da
filosofia, para entender que a teoria de Hegel, tal como resumida por
Alexandre Kojève, segundo a qual o ser humano se torna autoconsciente
por meio do conflito com o Outro, é uma simplificação unilateral, pueril
e maximamente idiota, boa para deslumbrar adolescentes que buscam em
poses de malícia a compensação do seu complexo de imaturidade.
Hegel está certo ao dizer que nossa autoconsciência se define pela
relação com os outros. Mas reduzir essa relação a um conflito de
vontades é coisa de menino neurótico. Lembro-me, por exemplo, de que
muitas pessoas em torno me pareciam arrastadas ao sofrimento por uma
compulsão anancástica, uma espécie de urucubaca auto-infligida e
incurável, e muito cedo na vida decidi que comigo isso não ia ser assim,
que eu iria lutar para assumir o meu destino nas minhas próprias mãos.
Mas isso não foi um conflito de vontades, e sim um contraste de
destinos, coisa muito mais complicada.
É impressionante como tantos escritores franceses se deixaram
hipnotizar pela dupla Hegel-Kojève ao ponto de vir a imaginar suas
próprias vidas sob o modelo do conflito dialético entre o eu e o outro,
em vez de examinar essas vidas com seus próprios olhos e ver que não
cabiam inteiramente no modelo.
O de C
Nenhum comentário:
Postar um comentário