sexta-feira, 1 de abril de 2016

Basta alguma experiência da vida, mesmo com pouco ou nenhum estudo da filosofia, para entender que a teoria de Hegel, tal como resumida por Alexandre Kojève, segundo a qual o ser humano se torna autoconsciente por meio do conflito com o Outro, é uma simplificação unilateral, pueril e maximamente idiota, boa para deslumbrar adolescentes que buscam em poses de malícia a compensação do seu complexo de imaturidade.

Hegel está certo ao dizer que nossa autoconsciência se define pela relação com os outros. Mas reduzir essa relação a um conflito de vontades é coisa de menino neurótico. Lembro-me, por exemplo, de que muitas pessoas em torno me pareciam arrastadas ao sofrimento por uma compulsão anancástica, uma espécie de urucubaca auto-infligida e incurável, e muito cedo na vida decidi que comigo isso não ia ser assim, que eu iria lutar para assumir o meu destino nas minhas próprias mãos. Mas isso não foi um conflito de vontades, e sim um contraste de destinos, coisa muito mais complicada.

É impressionante como tantos escritores franceses se deixaram hipnotizar pela dupla Hegel-Kojève ao ponto de vir a imaginar suas próprias vidas sob o modelo do conflito dialético entre o eu e o outro, em vez de examinar essas vidas com seus próprios olhos e ver que não cabiam inteiramente no modelo.



O de C

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