Aprender a ler corretamente é TUDO. A maior parte das pessoas, especialmente nesse templo da incultura que é o Brasil, ignora que a linguagem de QUALQUER ciência não se refere jamais a fatos concretos, e sim a aspectos abstrativos que só existem desde o ponto de vista especializado dessa ciência. Quando, por exemplo, o estudioso de genética animal diz que um urso mata os filhotes de outros ursos "na intenção de aumentar as chances de transmitir os seus próprios genes", ele NÃO está falando desde o ponto de vista da psicologia animal, que descreveria o fato de maneira totalmente diversa. Um urso faminto não pensa em genética para comer qualquer animal menor que esteja ao seu alcance. E, se até os seres humanos fazem sexo sem nem pensar em procriação, quanto mais não o farão os animais! O geneticista apenas usa a metáfora da "intenção" para designar uma conexão causal que só existe geneticamente, não psicologicamente. Sua descrição do fenômeno dista léguas da situação concreta vivenciada pelo urso.
Um dos traços pitorescos da ideologia científica popular na nossa época é que, professando reduzir todos os fenômenos da natureza e até da psique humana a efeitos cegos de leis mecânicas e acasos estatísticos, recorre quase compulsivamente, para descrevê-los, a uma linguagem antropomórfica de intenções e atos de vontade. O raciocínio finalístico, oficialmente banido, ressurge a cada momento em detalhes de estilo, às vezes sob o pretexto de condescendência paternalista para com os pobres leigos, mas denotando, no fundo, a impotência da linguagem puramente científica para evadir-se do seu mundo fechado de recortes abstrativos e aproximar-se do reino dos fatos concretos.
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