A devastação cultural que a "Nova
República" instaurou neste país foi mais vasta e mais funda do que posso
avaliar. Para faixas enormes da população, a língua portuguesa do
Brasil simplesmente não funciona mais. Não há forças sociais capazes de
restaurar a ordem no universo mental brasileiro e preparar as novas gerações
para a ação racional sobre realidade. A facilidade mesma com que um
grupo de vigaristas se apropriou dos protestos populares para fazê-los
trabalhar no seu exclusivo interesse, sem que restasse ao povo outra
alternativa senão obedecer à sua voz de comando, mostra que o debate
público neste país se tornou nada mais que um mecanismo de desorientação
em massa, um "sistema de erros", como dizia o poema do Drummond. Por
isso é que estou menos preocupado com "tirar a Dilma" do que em imaginar
se ainda existe algum meio de ação disponível para tirar o nosso povo
do estado de miséria mental e confusão em que o puseram.
Quantos, por exemplo, ainda são capazes de entender que algumas das
suas crenças mais óbvias e corriqueiras não vêm da operação espontânea
do "senso comum", e sim da atividade incessante e onipresente de uma
"revolução cultural" que, nominalmente, eles mesmos abominam? Quantos
ainda são capazes de rastrear as origens dos seus reflexos morais mais
simples e imediatos? O problema, evidentemente, não está em saber quem
ocupa hoje os altos postos no governo, mas em neutralizar os efeitos
devastadores das ações daqueles que já saíram desses altos postos há
décadas e dos quais ninguém se lembra mais.
O de C
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