domingo, 13 de março de 2016

A devastação cultural que a "Nova República" instaurou neste país foi mais vasta e mais funda do que posso avaliar. Para faixas enormes da população, a língua portuguesa do Brasil simplesmente não funciona mais. Não há forças sociais capazes de restaurar a ordem no universo mental brasileiro e preparar as novas gerações para a ação racional sobre realidade. A facilidade mesma com que um grupo de vigaristas se apropriou dos protestos populares para fazê-los trabalhar no seu exclusivo interesse, sem que restasse ao povo outra alternativa senão obedecer à sua voz de comando, mostra que o debate público neste país se tornou nada mais que um mecanismo de desorientação em massa, um "sistema de erros", como dizia o poema do Drummond. Por isso é que estou menos preocupado com "tirar a Dilma" do que em imaginar se ainda existe algum meio de ação disponível para tirar o nosso povo do estado de miséria mental e confusão em que o puseram.

Quantos, por exemplo, ainda são capazes de entender que algumas das suas crenças mais óbvias e corriqueiras não vêm da operação espontânea do "senso comum", e sim da atividade incessante e onipresente de uma "revolução cultural" que, nominalmente, eles mesmos abominam? Quantos ainda são capazes de rastrear as origens dos seus reflexos morais mais simples e imediatos? O problema, evidentemente, não está em saber quem ocupa hoje os altos postos no governo, mas em neutralizar os efeitos devastadores das ações daqueles que já saíram desses altos postos há décadas e dos quais ninguém se lembra mais.

O de C

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