segunda-feira, 14 de março de 2016

Meu último ano no Colégio Estadual de São Paulo foi o momento mais criativo da minha adolescência. Totalmente desiludido com os professores (exceto os de Latim e Biologia, que eu adorava), eu já nem freqüentava as aulas direito, só queria saber do Grêmio XVI de Setembro, onde não havia propriamente política estudantil, mas uma intensa atividade social e cultural. Meu amigo Valentino editava o jornal mural onde semanalmente agitávamos as discussões sobre os problemas do colégio, então numa crise dos diabos, e eu era o diretor social, o encarregado de organizar as festas, as comemorações, os bailes monumentais no Clube Pinheiros e na Maison Suisse, com grande orquestra, bem como os bailinhos mensais nas casas dos colegas, com muito Cuba-Libre, Gin Tônica e cigarros para todo mundo (hoje eu seria preso), além de uma esfregação obscena nas coxas das garotas, sempre gratíssimas ao dono da festa, eu. Todo dia eu percorria as classes, fazendo discursos inflamados estimulando a garotada a participar e colaborar com tudo o que inventávamos. Fiz muito dinheiro para o Grêmio e contribuí um bocado para reforma do teatro da escola, que ia caindo aos pedaços. Se fosse numa escola americana, eu tiraria dez o ano inteiro pelos empreendimentos sociais de nível mais que profissional, mas no nosso colégio os professores só empinavam o nariz, chamando tudo de "matação de aula". Minhas realizações eram a alegria do colégio, mas só me renderam, no corpo docente, recriminações e inveja. Foi aí que aprendi a não esperar nenhuma compreensão ou ajuda dos de cima.

Não tínhamos ideologia nenhuma, mas como entre nós havia uma garota da JEC (Juventude Estudantil Católica), muito falante e cheia de idéias do Padre Lebret na cabeça, constava que éramos a esquerda. Nossos concorrentes de direita tinham seu mural próprio e faziam um belo trabalho de assistência social, com o qual, para grande escândalo da mocinha, que os odiava, cheguei a colaborar organizando um espetáculo de teatro infantil que eles encenaram num orfanato. Se bem me lembro, eu mesmo escrevi a peça. 

Depois fui trabalhar numa revista da PM. Promovi uma pesquisa de opinião entre os alunos da Academia de Polícia, era uma coisa muito filha da puta cheia de insinuações, a direção da Academia achou que era subversão (e era). Fiquei preso por seis horas, interrogado por um sinistro capitão japonês. O presidente do Clube da PM, coronel Grohman, teve de intervir para livrar a minha cara. Fui solto porque me consideraram um tipinho insignificante (e era).

O de C

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