Meu último ano no Colégio Estadual de São Paulo foi o momento mais
criativo da minha adolescência. Totalmente desiludido com os professores
(exceto os de Latim e Biologia, que eu adorava), eu já nem freqüentava
as aulas direito, só queria saber do Grêmio XVI de Setembro, onde não
havia propriamente política estudantil, mas uma intensa atividade social
e cultural. Meu amigo Valentino editava o jornal mural onde
semanalmente agitávamos as discussões sobre
os problemas do colégio, então numa crise dos diabos, e eu era o
diretor social, o encarregado de organizar as festas, as comemorações,
os bailes monumentais no Clube Pinheiros e na Maison Suisse, com grande
orquestra, bem como os bailinhos mensais nas casas dos colegas, com
muito Cuba-Libre, Gin Tônica e cigarros para todo mundo (hoje eu seria
preso), além de uma esfregação obscena nas coxas das garotas, sempre
gratíssimas ao dono da festa, eu. Todo dia eu percorria as classes,
fazendo discursos inflamados estimulando a garotada a participar e
colaborar com tudo o que inventávamos. Fiz muito dinheiro para o Grêmio e
contribuí um bocado para reforma do teatro da escola, que ia caindo aos
pedaços. Se fosse numa escola americana, eu tiraria dez o ano inteiro
pelos empreendimentos sociais de nível mais que profissional, mas no
nosso colégio os professores só empinavam o nariz, chamando tudo de
"matação de aula". Minhas realizações eram a alegria do colégio, mas só
me renderam, no corpo docente, recriminações e inveja. Foi aí que
aprendi a não esperar nenhuma compreensão ou ajuda dos de cima.
Não tínhamos ideologia nenhuma, mas como entre nós havia uma garota
da JEC (Juventude Estudantil Católica), muito falante e cheia de idéias
do Padre Lebret na cabeça, constava que éramos a esquerda. Nossos
concorrentes de direita tinham seu mural próprio e faziam um belo
trabalho de assistência social, com o qual, para grande escândalo da
mocinha, que os odiava, cheguei a colaborar organizando um espetáculo de
teatro infantil que eles encenaram num orfanato. Se bem me lembro, eu
mesmo escrevi a peça.
Depois fui trabalhar numa revista da PM. Promovi uma pesquisa de
opinião entre os alunos da Academia de Polícia, era uma coisa muito
filha da puta cheia de insinuações, a direção da Academia achou que era
subversão (e era). Fiquei preso por seis horas, interrogado por um
sinistro capitão japonês. O presidente do Clube da PM, coronel Grohman,
teve de intervir para livrar a minha cara. Fui solto porque me
consideraram um tipinho insignificante (e era).
O de C
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