terça-feira, 15 de março de 2016

Quando um homem examina os fatos como representante de um movimento ou partido, ele não o faz desde sua posição de indivíduo humano concreto, mas desde um papel social, que é em parte uma construção abstrativa, em parte uma ficção. A veracidade ou falsidade da sua visão não dependem das coisas em si mesmas, mas de uma ação posterior destinada a modificá-las. O único tipo de veracidade que lhe é acessível é o da profecia auto-realizável.

Por isso é perda de tempo investigar se as teses do marxismo são "verdadeiras" ou "falsas", já que a relação aí existente entre as afirmações e os fatos é sempre ambígua e reversível. Mesmo a falsidade de uma profecia auto-realizável pode concorrer psicologicamente para a sua realização.

Apesar de todas as suas pretensões científicas tão alardeadas, o marxismo é cem por cento hostil a toda e qualquer noção de veracidade objetiva. Gramsci e Ernesto Laclau entenderam isso perfeitamente.

Se não desisto de modificar o objeto enquanto o estou examinando, nego-lhe todo estatuto de realidade objetiva e, em menor ou maior medida, o reduzo a um efeito das minhas ações.

No fundo, o marxismo só se submete a um único critério de veracidade: a vitória política, mesmo se obtida contra o sentido expresso das suas próprias teses.

A desinformação não é um instrumento auxiliar do marxismo: é a própria natureza dele.

Uma pequena amostra do poder avassalador e permanente da influência comunista na cultura do Ocidente é o fato de que tantos materiais de propaganda postos em circulação nos anos 30 do século passado pela rede multinacional de Willi Munzenberg continuem até hoje sendo divulgados como grandes realizações artísticas e literárias, em detrimento de obras incomparavelmente mais valiosas surgidas naquele período fora do círculo munzenberguiano. Nos ambientes chiques de Nova York e Londres você encontrará muito mais apreciadores dos desenhos de George Grosz e Kathe Kollwitz, ou das peças de Bertolt Brecht, do que leitores dos romances magistrais de Jacob Wassermann.

Todos os padrões estéticos dominantes até hoje entre o "beautiful people" americano vieram de três fontes comunistas: a Bauhaus, Willi Münzenberg e a New Left.

No começo dos anos 20 do século passado, o cineasta soviético Lev Kuleschov fez um experimento que marcaria época: intercalou vários close-ups frontais de um ator imóvel com várias imagens diferentes -- uma paisagem, um bicho, um prato de comida, uma criança sorrindo -- e viu que isso despertava na platéia a impressão de uma performance espetacular da parte de um ator que não fizera absolutamente nada. O ilusionismo da "montagem" (editing) tornou-se o procedimento essencial do cinema soviético, explorado especialmente pelo diretor Serguei Eisenstein e pelas empresas cinematográficas de Willi Münzenberg para dar a aparência de documentário realista a cenas totalmente inventadas. Esse fenômeno revela uma das características mais fundas e constantes da mentalidade comunista, que é a confusão permanente de realidade e fantasia. Sem esse vício ou artifício, ninguém poderia cair no engodo de um Partido cujo poder se assenta inteiramente no ardil de arrogar-se na realidade presente a autoridade moral de um futuro hipotético que, aliás, não pode chegar nunca, uma vez que, se chegasse, suprimiria automaticamente essa autoridade, rebaixando o Partido, de juiz supremo, a réu obrigado a prestar contas perante a contabilidade dos lucros e prejuízos alcançados.


O de C




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