terça-feira, 14 de junho de 2016

A suprema vigarice da cultura moderna é transferir a entidades abstratas -- a religião, nação, a classe, a raça, o grupo etc. -- os mandamentos e deveres que Deus impôs a cada ser humano individualmente. Devemos amar as outras religiões como amamos a nossa? Devemos matar e morrer no campo de batalha pela nação inimiga como matamos e morremos pela nossa? Devemos servir ao partido inimigo como servimos ao nosso? A resposta a essas perguntas é tão obviamente "Não", que isso já basta para mostrar índole farsesca de toda a noção moderna de "tolerância", cuja versão ampliada e absolutizada leva hoje o nome cínico de "diversidade".

Outra cretinice imposta como ciência é a idéia de que às diferentes raças humanas correspondam suas respectivas culturas. Comecei a pensar nisso aos quatorze anos. Fui criado no bairro japonês em São Paulo, e as escolas que freqüentei estavam repletas de nisseis. Havia muitas garotas nisseis que eu considerava as criaturas mais lindas do mundo, mas elas não coincidiam NUNCA com aquelas que OS GAROTOS nisseis consideravam bonitas, nem muito menos se pareciam com aquelas que apareciam como símbolos de beleza nas revistas nipônicas. Raciocinando mais um pouco, notei que os padrões de beleza naquelas revistas e na mente dos meus coleguinhas enfatizavam justamente aqueles traços que assemelhavam as japinhas às mulheres européias (nariz afilado, lábios finos), enquanto o que me parecia bonito nelas era o que as diferenciava desses padrões (narizes mais largos, lábios sensuais). Havia ali uma espécie de conflito cultural invertido.

O de C

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