quinta-feira, 16 de junho de 2016

René Guénon segue a metafísica hindu, segundo a qual, acima da pessoa divina, Ishwara, que é o rosto de Deus voltado para os seres criados, existe o Ser, ou essência secreta de Deus, e acima do Ser o Supra-Ser, o Brahman suprapessoal e anônimo, infinito e eterno, que se alterna em estados de "manifestação" e "não manifestação" ("dias e noites de Brahman") nos quais universos inteiros aparecem e desaparecem junto com o próprio Ser. Essa concepção é totalmente autocontraditória, porque, se não há seres criados antes os quais Deus possa "manifestar-se", para quem Ele se manifestaria? Para si mesmo? Isso implicaria que nos seus estados de total não-manifestação Ele se ignorasse a Si mesmo, constituindo um oceano infinito não de sabedoria, mas de esquecimento, e, pior ainda, sem ninguém por perto para despertá-Lo de novo para a Sua própria presença. O Deus que não é uma Pessoa só pode ser uma "coisa", um "quid" abstrato, um "x", um "algo", e não vejo como o estado de "algo" possa ser superior ao de "pessoa", que é, de fato -- como exemplificado analogicamente e parcialmente na própria pessoa humana --, a síntese perfeita da transparência e da impenetrabilidade, acima da qual nada se pode conceber. A escala que sobe de Ishwara ao Brahman está de fato invertida, é uma distorção "coisista": a Pessoa de Deus presente a Si mesma, o eterno Eu-Sou sob a forma da Trindade, é o cume da realidade universal. Nenhum "quid" pode estar acima disso. Guénon estava redondamente enganado ao supor que a metafísica cristã era "incompleta" por ignorar o Brahman. O Brahman não é uma realidade auto-subsistente, não é senão um estado subjetivo do Deus pessoal entre bilhões de outros estados possíveis.

Imagino os sábios que passaram a vida tentando apreender a "consciência cósmica" ou alguma coisa acima dela, a chave última da realidade exposta em linguagem de doutrina metafísica ou em fórmulas matemáticas, chegando ao Céu e descobrindo que por trás de tudo isso o que existe é uma Pessoa...

O de C


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