domingo, 15 de maio de 2016

mentalidade dos militares brasileiros

A "captatio benevolentiae" foi inventada pelos antigos retóricos gregos e romanos. Consistia de uns paragrafinhos simpáticos colocados no início do discurso para dourar a pílula. No Brasil, porém, ela deixou de ser apenas um exórdio e tornou-se o conteúdo integral de cada discurso. A realidade simplesmente NÃO PODE ser descrita na linguagem usual das classes falantes neste país. Cada um aí fala como se fosse um estudante buscando a aprovação da banca, ou como um ator em busca de aplausos, não como um cientista buscando a verdade junto com os seus pares. A ênfase recai sempre na pessoa do orador, não no assunto.

Como as Forças Armadas são sempre organizações nacionais, os militares continuam raciocinando em termos do Estado nacional, sem jamais compreender o que é globalismo e nem sequer o que é o movimento comunista.

Exemplo típico da retórica brasileira. "A Guerra Fria polui até hoje a compreensão do século XX", diz o general Etchegoyen. "Até hoje é muito difícil compreender os fatos fora desse jogo, dessa dicotomia." Uai, mas a Guerra Fria nunca foi uma interpretação dos fatos. Ela era os próprios fatos, o conflito real. Querer "sair da dicotomia", no caso, seria como tentar compreender, por exemplo, a guerra franco-alemã fora do quadro dos interesses franco-alemães em conflito. É assim que, no Brasil, se profere um majestoso nonsense com ares de quem diz coisa superiormente racional e equilibrada.

O bom-mocismo mata qualquer inteligência.

Platão, no "Eutífron", falava daqueles que estão do lado do bem só por tradição e hábito, sem revigorar suas crenças pela busca ativa da verdade, e se tornam assim colaboradores inconscientes do mal. Buscam fazer o bem tal como o entendem, mas não têm valores para passar às novas gerações. Essa foi a fraqueza dos militares que governaram o Brasil. Livraram o país das guerrilhas e melhoraram a economia nacional, mas, por superficialidade e falta de respeito profundo aos seus próprios ideais, entregaram a juventude nas mãos dos inimigos.

Se a Guerra Fria acabou, por que hoje a Rússia tem mais espiões nos EUA do que tinha naquele tempo? Se o comunismo acabou, esmagado pelo triunfo geral da democracia, por que os ideais cristãos que inspiravam os EUA naquela época se tornaram "discurso de ódio", achincalhado e proibido por toda parte?

Subestimar o inimigo é a primeira e mais sacrossanta obrigação que a direita brasileira se impõe. Como o sujeito não gosta de comunismo, tem de dizer que os comunistas não existem, que são fracos, que estão acabados etc. e tal. E, quando eles o enrabam mais uma vez, ele toma uma providência espetacular: muda o nome deles, chamando-os de "populistas" ou "bolivarianos".


O de C

Nenhum comentário:

Postar um comentário