A "captatio benevolentiae" foi inventada pelos antigos retóricos
gregos e romanos. Consistia de uns paragrafinhos simpáticos colocados no
início do discurso para dourar a pílula. No Brasil, porém, ela deixou
de ser apenas um exórdio e tornou-se o conteúdo integral de cada
discurso. A realidade simplesmente NÃO PODE ser descrita na linguagem
usual das classes falantes neste país. Cada um aí fala como se fosse um
estudante buscando a aprovação da banca, ou como um ator em busca de
aplausos, não como um cientista buscando a verdade junto com os seus
pares. A ênfase recai sempre na pessoa do orador, não no assunto.
Como as Forças Armadas são sempre organizações nacionais, os
militares continuam raciocinando em termos do Estado nacional, sem
jamais compreender o que é globalismo e nem sequer o que é o movimento
comunista.
Exemplo típico da retórica brasileira. "A Guerra Fria polui até hoje a
compreensão do século XX", diz o general Etchegoyen. "Até hoje é muito
difícil compreender os fatos fora desse jogo, dessa dicotomia." Uai, mas
a Guerra Fria nunca foi uma interpretação dos fatos. Ela era os
próprios fatos, o conflito real. Querer "sair da dicotomia", no caso,
seria como tentar compreender, por exemplo, a guerra franco-alemã fora
do quadro dos interesses franco-alemães em conflito. É assim que, no
Brasil, se profere um majestoso nonsense com ares de quem diz coisa
superiormente racional e equilibrada.
O bom-mocismo mata qualquer inteligência.
Platão, no "Eutífron", falava daqueles que estão do lado do bem só
por tradição e hábito, sem revigorar suas crenças pela busca ativa da
verdade, e se tornam assim colaboradores inconscientes do mal. Buscam
fazer o bem tal como o entendem, mas não têm valores para passar às
novas gerações. Essa foi a fraqueza dos militares que governaram o
Brasil. Livraram o país das guerrilhas e melhoraram a economia nacional,
mas, por superficialidade e falta de respeito profundo aos seus
próprios ideais, entregaram a juventude nas mãos dos inimigos.
Se a Guerra Fria acabou, por que hoje a Rússia tem mais espiões nos
EUA do que tinha naquele tempo? Se o comunismo acabou, esmagado pelo
triunfo geral da democracia, por que os ideais cristãos que inspiravam
os EUA naquela época se tornaram "discurso de ódio", achincalhado e
proibido por toda parte?
Subestimar o inimigo é a primeira e mais sacrossanta obrigação que a
direita brasileira se impõe. Como o sujeito não gosta de comunismo, tem
de dizer que os comunistas não existem, que são fracos, que estão
acabados etc. e tal. E, quando eles o enrabam mais uma vez, ele toma uma
providência espetacular: muda o nome deles, chamando-os de "populistas"
ou "bolivarianos".
O de C
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