quarta-feira, 11 de maio de 2016

Rafael Falcon update 11/05/2016

Alice tem quatro anos. Se dependesse de imposição minha, ela estaria apenas ouvindo poesia e contos de fadas, e brincando de Escala Cuisinaire. Não saberia nem o ABC -- e eu suportaria os adultos retardados que acham que saber ler mais cedo significa alguma coisa. Mas ela quis aprender isso agora, então, que aprenda. Em educação infantil, a curiosidade é imperativa.

Platão, Cícero, Santo Agostinho, Dante Alighieri, Leonardo da Vinci e praticamente todo ser humano até o século passado não aprenderam a ler antes dos sete anos. Algumas crianças só começavam os estudos aos dez. Nós, em posse da tecnologia moderna, temos aí vários Glenn Domans botando bebês para ler e fazer contas, mas não sai nenhum Cícero. Nossos ancestrais nos achariam uma piada de péssimo gosto. Macacos com ipods.

Fabio Florence Professor Rafael Falcón, essa interessante observação também vale para os "músicos prodígio" que vemos na internet. Certa vez, um experiente professor de música me disse que uma criança que já é capaz de tocar um concerto para piano Rachmaninoff com técnica perfeita estraga de maneira irremediável seu talento e nunca será um grande solista, pois tratam-se de peças cuja complexidade e cujas nuances necessitam de maturidade para serem absorvidas.
Rafael Falcón
Rafael Falcón Interessantíssimo. Não domino essa arte, mas acho a idéia preciosa demais para ser falsa.


A educação clássica não produz material para ostentação precoce. Posso ensinar seu bebê a dançar a conga e falar "física quântica", mas se eu quiser lhe dar algo que faça diferença, ele talvez não manifeste efeito algum durante anos. Ao contrário: talvez fique mais calado, mais introspectivo, mais concentrado em atividades pouco impressionantes como desenhar linhas retas e círculos. Você não terá nada para postar no Facebook, nada para viralizar no YouTube. Com os meses, você perceberá algumas coisas: um brilho diferente nos olhos, uma resposta precisa a um problema concreto, um modo de formular as frases que espanta pela complexidade e exatidão gramatical, uma maturidade extraordinária no trato com os irmãos. Mas nada disso te dará o prêmio de pai do ano, quando as outras crianças estão fazendo contabilidade avançada e lendo livros enormes.
Obs: se essa minha horrível propaganda te seduziu, confira isto: www.formacaoliteraria.com.

Outro dia me perguntaram num update o que "achava" de uma obra determinada do Mário Ferreira dos Santos. Achar sob que ponto de vista? A mesma coisa pode ser gostosa e prejudicial à saúde; inútil, mas consoladora; pequena, mas eficiente; utilíssima, mas insossa; agradável, mas falsa. Sob quantos aspectos um livro pode ser avaliado? Dezenas? Como eu vou adivinhar qual é o que te interessa? Não me pergunte o que "acho" de nada, pois só vou responder que não sei.

O idiota é difícil de persuadir, mas fácil de manipular. Seja fácil de persuadir, e difícil de manipular.


Vivo dando conselhos, aqui mesmo, para quem deseja obter formação literária. Mas me pedem indicação de livros. Eis a gigantesca lista:
As Metamorfoses - Ovídio, trad. Bocage. Comentários de Rafael Falcón. Fiz o livro para isso mesmo.
Os Lusíadas - Luís de Camões. A edição com os comentários mais completos que você conseguir. Tenho recomendado a do Prof. Francisco da Silveira Bueno.
Estude e memorize trechos favoritos. Quando terminar, avise que eu indico os próximos. Agora tem um bebê mexendo nos fios do computador.

RFalcon

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