Em toda essa conversa sobre "influências", o que vejo é um bocado de
ignorância no ar. Em pouco de estudo de literatura comparada e história
das idéias bastaria para eliminar muitas ilusões a respeito. Você pode
estar cem por cento dentro da esfera de influência de um escritor e
jamais ter lido o nome dele em parte alguma. Um estudioso sério sabe
disso. O idiota apela ao "argumentum ad ignorantiam": "Como posso ter
sido influenciado pelo fulano se jamais ouvi falar dele?" Dou-lhes
um exemplo pessoal. Na adolescência li praticamente todos os livros de
Erich Fromm. Se me dissessem que eu estava sob a influência de Max
Horkheimer eu responderia: "Jamais couché avec." E estaria sendo um
perfeito idiota. Nos EUA há milhões de admiradores devotos de Abraham
Lincoln que nunca ouviram falar de Friedrich List. E quantos eleitores
do velho Partido Democrata Cristão de Franco Montoro conheceram o nome
de Luigi Sturzo? Um russo, em 1917, podia estar em Paris e tornar-se
marxista por influências locais sem nunca ter tido notícia de Lênin. Nem
por isso estaria fora da área de influência leninista. Qualquer
historiador das idéias sabe dessas coisas. Não são assuntos para bobocas
recém-chegados.
Estive, por anos, na esfera de influência do Eric Voegelin antes de
ter lido uma só linha dele. Suas idéias me chegavam indiretamente, sem
nome, por escritos do Mário Vieira de Mello, do Alberto Guerreiro Ramos.
Quando redigi "O Jardim das Aflições", ainda conhecia somente "A Nova
Ciência da Política" e coincidia com o Voegelin em muitos pontos que só
vim a ler anos depois. Em história das idéias as coisas são assim.
Existe uma diferença imensurável entre a influência cultural difusa e
a criação de um movimento político que resuta dela por vias sutis e
incontroláveis. Atribuo-me a primeira e os idiotas imaginam que estou me
arrogando a segunda, daí concluindo. naturalmente, que sou um
megalômano, preenchendo com psicologia de botequim o hiato dos seus
conhecimentos de história das idéias.
O de C
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