É o que eu digo: Para quê ler ou dar crédito ao Olavo de Carvalho, se
você pode ter acesso aos mesmos fatos pela coluna do Merval Pereira
apenas quinze anos depois?
O mais bonito da história é a parte em
que os distintos oficiais das Forças Armadas ficam indignados com as
temíveis revelações, que já lhes haviam chegado com quinze anos de
antecedência e diante das quais eles optaram pela indiferença, pela
preguiça e pela omissão.
Nenhum profissional de área nenhuma tem o
direito de tomar a grande mídia -- a mídia popular, no fim das contas --
como sua principal e mais confiável fonte de informação, em vez de
buscar fontes primárias e estudiosos especializados. A grande mídia é
sempre a penúltima a saber. Os últimos são os que se deixam guiar por
ela. Isso deveria ser somente para amadores.
O de C
Desejos recônditos
POR MERVAL PEREIRA
20/05/2016 08:01
Nada como uma derrota para revelar as verdades escondidas do poder que
predominou nos últimos 13 anos. Além dos imensos buracos na
contabilidade pública que serão denunciados pelo próprio presidente
Temer, temos agora revelados em nota oficial alguns objetivos
prioritários do partido.
Aproveitando-se da democracia, o partido
sempre tentou avançar em decisões autoritárias para controlar setores
fundamentais do Estado. Quando denunciado, recuava e negava segundas
intenções, como nas inúmeras vezes em que tentou aprovar projetos de
controle dos meios de comunicação, com diversos nomes e variadas
desculpas.
Agora, afinal, o próprio Diretório Nacional do PT solta
uma nota oficial, à guisa de autocrítica, que revela os planos mais
recônditos. Esses comentários irritaram setores das Forças Armadas, por
exemplo, e confirmam que o partido sempre pensou em controlar o
Ministério Público e a Polícia Federal, além de reafirmar o objetivo de
controlar os meios de comunicação através da manipulação das verbas
publicitárias.
Diz a certa altura o documento do PT: "Fomos
igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que
implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da
Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos
das academias militares; promover oficiais com compromisso democrático e
nacionalista; fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty e
redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para
os monopólios da informação."
O comandante do Exército, general
Eduardo Villas Boas, segundo a jornalista Eliane Cantanhede do Estado de
S. Paulo, reagiu com irritação à Resolução do Diretório Nacional do PT
sobre Conjuntura. “Com esse tipo de coisa, estão plantando um forte
antipetismo no Exército”, disse o comandante, considerando que os termos
da resolução petista de maneira geral “remetem para as décadas de 1960 e
de 1970″ e têm um tom “bolivariano”, ou seja, semelhante ao usado pelos
regimes de Hugo Chávez e agora de Nicolás Maduro na Venezuela e também
por outros países da América do Sul, como Bolívia e Equador.
Segundo
Cantanhede, o general Villas Boas disse que as Forças Armadas,
“atravessaram todo esse momento de crises cumprindo estritamente seu
papel constitucional e profissional, sem se manifestar e muito menos sem
tentar interferir na vida política do país” e esperam, no mínimo,
reciprocidade.
Já o General Rego Barros, do Centro de Comunicação
Social do Exército, me enviou uma mensagem em que afirma que “a recente
resolução sobre conjuntura do PT apresenta alguns percepções equivocadas
e ideologizadas sobre as Forças Armadas e a destinação das instituições
que servem de esteio ao Estado”.
Para Rego Barros, “a nossa
postura, sempre equilibrada, mostra porque é essencial continuarmos
balizando nossas ações com base nos três pilares defendidos pelo
comandante: estabilidade - legalidade – legitimidade”.
A questão
mais sensível do ponto de vista das Forças Armadas é a interferência nos
currículos das escolas militares, tema que já deu problemas
anteriormente. A presidente Dilma assinou um decreto em setembro de 2015
transferindo para o ministério da Defesa poderes dos comandantes
militares, aparentemente apenas burocráticos, mas que dariam margem
justamente à interferência nos currículos das escolas militares.
Quem levou o decreto à presidente foi a secretária-geral do ministério, a
petista Eva Maria Chiavon, sem consultar o ministro interino, o
Comandante da Marinha, almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, que
apareceu no Diário Oficial como tendo assinado o decreto, mas garantiu
que nunca o fez.
Eva Maria Chiavon é casada com Francisco
Dalchiavon, o principal executivo do MST, número 2 de João Pedro
Stedile, encarregado de negociar a produção das cooperativas. O Art. 4º
do decreto revoga o Decreto nº 62.104, de 11 de janeiro de 1968, que
delegava “competência aos ministros de Estado da Marinha, do Exército e
da Aeronáutica para aprovar, em caráter final, os regulamentos das
escolas e centros de formação e aperfeiçoamento respectivamente da
Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica militar”.
Ao revogar
o decreto de 1968, essa função passaria automaticamente para o
ministério da Defesa. Ao identificar que o ensino e a formação dos
militares poderiam ser enfeixados nas mãos do ministro da Defesa,
começou a paranóia de que a esquerda petista estaria tentando avançar
sobre a formação de oficiais. O decreto foi neutralizado por outro, mas a
nota do Diretório Nacional do PT mostra que realmente o partido tinha
entre suas prioridades o aparelhamento do ensino nas escolas e centros
de formação militares.
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