A conduta mais freqüente que vejo nos brasileiros nos últimos tempos
é: fugir da informação e apostar na sorte. Por exemplo, até agora
ninguém fez ao general Villas-Boas a ÚNICA pergunta decisiva:
-- A
concepção de Defesa Nacional do ministro Aldo Rebelo é sabidamente a do
Foro de São Paulo. Foi com ESSA concepção que o senhor disse que
concorda, ou quis dizer, com essas palavras, exatamente o oposto?
Alguém SABE, de fonte segura, qual será a atitude provável das Forças
Armadas na crise presente? NINGUÉM SABE NEM QUER SABER. Ninguém faz a
mais mínima tentativa de saber. Uns apostam nisto, outros naquilo. Não
chega a ser um confronto de opiniões. É um torneio de desejos. É um
bando de loucos escrevendo cartas a Papai Noel.
Quando, nos anos 90, eu advertia aos militares que eles acabariam
batendo continência para os comunistas, eles riam, com aquela típica
afetação de superioridade de quem não enxerga o perigo.
Como todos os brasileiros, eu espero e confio que as Forças Armadas
agirão com patriotismo. Mas esperar e confiar não é saber -- e nem toda
as mais belas esperanças e confianças do mundo justificam a recusa de
tentar saber.
Acho que está na hora de explicar aos senhores generais que nós,
civis, não somos crianças, não gostamos de que tentem nos acalmar com
desconversas contraditórias que só nos enervam, por bem intencionadas
que sejam.
Se o Executivo manda fazer uma coisa e o Legislativo outra, a quem as
Forças Armadas vão obedecer? Diante dessa pergunta, a afirmação "Vamos
manter a ordem" é uma não-resposta.
Se as Forças Armadas levarem às útimas conseqüencias o repentino amor
de certos oficiais ao formalismo jurídico, elas não terão alternativa
senão obedecer a Dilma incondicionalmente e tornar-se inimigas do povo.
Se, ao contrário, entenderem que é impossível orientar-se numa situação
política substantiva mediante o apelo à simples letra da lei, estarão,
do ponto de vista do atual governo, em estado de rebelião. Nenhuma das
duas hipóteses é muito confortável. Como perdi todo contato com os
militares brasileiros há dez anos, confesso que não sei o que devo
esperar nos próximos dias. Mas, nesse ponto, parece que sou o único
brasileiro consciente da própria ignorância. Todos os demais que opinam a
respeito vêm tratando o assunto como matéria de fé, contentando-se com
crer em vez de tentar saber.
Bons tempos, aqueles em que o debate de idéias políticas no meio
militar aparecia nos comentários jornalísticos de David Nasser, Carlos
Lacerda, Oliveiros da Silva Ferreira e não sei mais quantos. Hoje é tudo
segredo e desconversas polidas. Fomos reduzidos a um estado infantil de
ignorância esperançosa (ou temerosa). É a isso que, numa apoteose de
otimismo eufemístico, o pessoal chama de "profissionalização das Forças
Armadas".
Os que esperam das Forças Armadas uma "intervenção constitucional"
dirão que estou contra elas. Os que delas esperam a obediência servil ao
governo comunista dirão que prego uma rebelião. Não falta, entre os
primeiros e os segundos, quem creia que a salvação do país requer o
fuzilamento do Olavo de Carvalho. Confessar ignorância e buscar
conhecimento se tornou muito perigoso neste país.
A Nova República impôs ao país inteiro um estado de travamento
neuronal e lingüistico onde o medo de perguntar se tornou obrigação
cívica.
O de C
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