Cada um dos "formadores de opinião" jornalísticos ou universitários
deste país filia-se a alguma corrente de pensamento -- marxismo,
desconstucionismo, feminismo, teologia da libertação, liberalismo,
economia austríaca, tradicionalismo católico, teologias protestantes
várias, escola analítica, guenonismo, duguinismo, etc. etc. --, que
demarca o seu horizonte de consciência e fora da qual tudo são trevas,
quando não horrores. A Providência divina quis que eu passasse por todas
elas -- ou quase todas --, colhendo de cada uma o que pudesse me
ensinar e evadindo-me do seu controle antes que se fechasse em torno de
mim como um tabique. O debate de idéias no Brasil ainda é, em cem por
cento, um diálogo provinciano entre "representantes" de escolas
estrangeiras que, no quadro local, só compreendem umas às outras pelo
contraste consigo mesmas. O ponto-de-vista desde o qual observo os fatos
não coincide com o de nenhuma delas, nem com a sua somatória. É o
resultado de um longo esforço dirigido à "unidade do conhecimento na
unidade da consciência e vice-versa", esforço que é poupado a todo
aquele que desde os bancos universitários já se integra numa corrente
qualquer e nela permanece por toda a vida, ou, quando a abandona, é para
filiar-se automaticamente à sua oposta simétrica.
Se nunca dei às minhas idéias uma formulação sistemática, foi em
parte pelo meu temperamento intelectual antes reativo do que
construtivo, em parte por temor de que uma doutrina demasiado organizada
se impusesse aos meus alunos como uma camisa-de-força incapacitante. Se
a filosofia é eminentemente pedagogia, como ensinava Platão, então na
alma do filósofo o doutrinário e o professor estarão permanentemente em
duelo -- um duelo no qual este último sempre levará vantagem.
Publicando "O Imbecil Coletivo" em 1996, com quarenta e nove anos de
idade, fui com certeza uma das estréias mais tardias da literatura
brasileira. Deus fez com que a evolução da minha consciência fosse
lenta, difícil e arrastada para que eu me lembrasse de cada um dos meus
erros e os reconhecesse de imediato ao reencontrá-los nos escritos dos
outros. Se tantas vezes me saí bem em confrontos polêmicos, foi porque
estava batendo apenas em alguma versão mais jovem de mim mesmo.
O de C
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