domingo, 24 de abril de 2016

filosofia do Olavo

Cada um dos "formadores de opinião" jornalísticos ou universitários deste país filia-se a alguma corrente de pensamento -- marxismo, desconstucionismo, feminismo, teologia da libertação, liberalismo, economia austríaca, tradicionalismo católico, teologias protestantes várias, escola analítica, guenonismo, duguinismo, etc. etc. --, que demarca o seu horizonte de consciência e fora da qual tudo são trevas, quando não horrores. A Providência divina quis que eu passasse por todas elas -- ou quase todas --, colhendo de cada uma o que pudesse me ensinar e evadindo-me do seu controle antes que se fechasse em torno de mim como um tabique. O debate de idéias no Brasil ainda é, em cem por cento, um diálogo provinciano entre "representantes" de escolas estrangeiras que, no quadro local, só compreendem umas às outras pelo contraste consigo mesmas. O ponto-de-vista desde o qual observo os fatos não coincide com o de nenhuma delas, nem com a sua somatória. É o resultado de um longo esforço dirigido à "unidade do conhecimento na unidade da consciência e vice-versa", esforço que é poupado a todo aquele que desde os bancos universitários já se integra numa corrente qualquer e nela permanece por toda a vida, ou, quando a abandona, é para filiar-se automaticamente à sua oposta simétrica.

Se nunca dei às minhas idéias uma formulação sistemática, foi em parte pelo meu temperamento intelectual antes reativo do que construtivo, em parte por temor de que uma doutrina demasiado organizada se impusesse aos meus alunos como uma camisa-de-força incapacitante. Se a filosofia é eminentemente pedagogia, como ensinava Platão, então na alma do filósofo o doutrinário e o professor estarão permanentemente em duelo -- um duelo no qual este último sempre levará vantagem.

Publicando "O Imbecil Coletivo" em 1996, com quarenta e nove anos de idade, fui com certeza uma das estréias mais tardias da literatura brasileira. Deus fez com que a evolução da minha consciência fosse lenta, difícil e arrastada para que eu me lembrasse de cada um dos meus erros e os reconhecesse de imediato ao reencontrá-los nos escritos dos outros. Se tantas vezes me saí bem em confrontos polêmicos, foi porque estava batendo apenas em alguma versão mais jovem de mim mesmo.



O de C

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