sábado, 16 de abril de 2016

Foi Maquiavel quem ensinou ao Ocidente que olhar a humanidade pelas lentes deformantes da malícia corrosiva, atribuindo a tudo os motivos mais baixos e sórdidos, é realismo. Mas isso não é realismo nenhum. É uma redução metonímica da substância a algumas de suas propriedades e acidentes. É fantasia de um tímido ressentido que, incapaz de se opor eficazmente à adversidade, se vinga da própria fraqueza xingando e rebaixando a espécie humana.
A deformação maquiavélica do rosto humano se tornou, no último século, quase uma obrigação para muitos escritores, mas, da minha parte, desde jovem notei que nada poderia compreender da realidade se não me vacinasse primeiro contra o vírus desse Ersatz de realismo.

O negativista maquiavélico posa de valentão que não precisa de ilusões e tem a coragem de chamar as coisas pelos seus verdadeiros nomes. Bem, ele pode até dizer os nomes verdadeiros de algumas coisas, mas nunca é valente o bastante para chamar o seu próprio fingimento de fingimento.

O crítico odiento do mundo burguês não tem nenhuma obrigação moral de renunciar aos benefícios e confortos da vida burguesa, mas, se desfruta deles, tem no mínimo a obrigação de confessar que o mundo burguês não é completamente ruim.

Toda existência humana tem um coeficiente inevitável de fingimento, do qual em vão se busca um alívio no sincerismo obsceno que se deleita na contemplação dos próprios pecados. O fato é que, se não existisse um Deus que nos conhece por inteiro, não poderíamos nos conhecer nem mesmo um pouquinho.

Se o próprio Deus nos olha com compaixão, por que deveríamos nos olhar com curiosidade sádica só para nos fazer de valentões?

Se você se acusa diante de Deus, você é o seu próprio diabo.

Não deveria ser preciso explicar isto, mas confessar NÃO É acusar-se. Acusar é pedir condenação.


Marcio Soares Santo Alfonso di Liguori nos ensina, durante as confissoes a dizer uma seguinte fòrmula ou oraçao: "me acuso ainda de todos os pecados que nao conheço...". Serà que nos devemos sentir como o pròprio diabo, durante a confissao?!
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Olavo de Carvalho
Olavo de Carvalho É uma hipérbole. A liturgia da missa pede claramente: "NÃO OLHEIS para os nossos pecados."


 O DE C



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