quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Encontrar a própria voz, o próprio tom, é essencial na vida em geral, mas na vida literária é PRIORIDADE UM. Encontrar, e não criar.

Vamos falar o português claro: na sociedade brasileira quase todo mundo se sente fracassado, e com justa razão. A compensação mais imediata, automática e desastrosa desse sentimento é o sujeito fingir que é o que não é. Se você quer ser um escritor, tem de primeiro aprender a falar com a voz do seu fracasso. Um pouco de autogozação ajuda muito.

Os livros brasileiros seriam muito melhores se todos começassem com a frase: "Sou um bosta, mas..."

Um leitor precisa ser muito tapado para não perceber que, nos meus escritos, os palavrões expressam apenas a recusa humilde de toda solenidade fingida.

Não quero falar a ninguém num tom que eu não possa usar num botequim de favela.

É por isso que sou muito mais aceito pelo povão -- ou por grandes escritores -- do que pela pseudo-elite da mídia e das universidades. Falo para os de cima e para os de baixo. Os do meio que vão tomar no(s) cu(s).

Ser um escritor é falar -- sempre -- de coração nas mãos.

Poses, trejeitos, afetações de polidez, teatralismos vários -- tudo tem de ser jogado na lata de lixo de uma vez para sempre.

Nos anos 50, todo mundo com ambições literárias sabia disso. A destruição da cultura superior veio junto com a ascensão da falsa polidez.

Naquela época, quem quer que dissesse que Graciliano Ramos, Jorge Amado ou Nelson Rodrigues eram "bocas sujas" estava imediatamente condenado ao ridículo.

Quando desaparece a literatura, desaparece logo em seguida a população de leitores capacitados. Esse é talvez o maior problema político do Brasil de hoje: você tem de educar o mesmo público que está julgando o seu trabalho. Os retóricos romanos já sabiam que essa é a situação de discurso mais temível e ameaçadora.

Tudo o que é necessário para você JAMAIS se tornar um escritor é meter-se em discussões prematuras e, na ânsia de vencê-las, apelar aos chavões mais usuais e correntes, cortejando a aprovação fácil da parte mais preguiçosa da platéia. Escritores existem para banir os chavões e preencher o lugar deles com linguagem viva. Entre ceder espaço a um chavão e perder a afeição dos imbecis, um escritor preferirá SEMPRE esta última alternativa.

Enquanto Lima Barreto afundava no isolamento que o levaria à bebedeira e à loucura, o escritor mais celebrado pela mídia da época era um tal de Pelino Guedes, que, obviamente, acabou desaparecendo no esgoto da História. A mídia brasileira sempre foi o templo da imbecilidade -- e, como o inglês da piada da vaca, não mudou nada.

O dia em que mais me senti realizado como escritor foi quando ouvi a massa nos estádios gritando "Hei, Dilma, vá tomar no cu." Por um milhão de vias sutis e não identificáveis, minha mensagem tinha chegado ao povão. Semanas depois a turma saiu às ruas com os cartazes de "Olavo tem razão", confirmando oficialmente o recebimento da mensagem. Outra mensagem bem acolhida foi o apelo ao panelaço, que produziu sobre a empáfia comunopetista os resultados mais devastadores -- na verdade, os únicos resultados substantivos obtidos até agora. Que é que eu faço quando vem algum Fábio Ostermann querendo me dar lições de política?


O de C

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