quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Quase toda relação social no Brasil é perniciosa, e aquela que se dá no seio das igrejas não está excluída de modo algum. De que serve, por exemplo, o sujeito dedicar-se à virtude, se por "virtude" ele entende "ser como os outros gostariam que eu fosse"? Assim a virtude se torna apenas mais um instrumento pelo qual o mundo (e seu príncipe) o controla.

Poderíamos fazer um glossário das virtudes cristo-brasileiras. "Paciência" é ser conivente com as maldades alheias; "humildade" é esforçar-se para persuadir todo mundo de que você não é melhor que eles; "vaidade" é fazer uso das suas prerrogativas por méritos objetivos; etc.

Além das relações sociais, o Brasil sofre muito com o analfabetismo funcional e a pressa de julgar sem entender.

A virtude não se mede como um "meio-termo", mas como adequação da atitude ao seu objeto. Por exemplo, a humildade é uma atitude adequada ao valor objetivo do sujeito. Você pode estar no meio-termo absoluto, e mesmo assim não estar na virtude.

A diferença entre coragem e temeridade não está na "quantidade de virtude" (como se "coragem demais" fosse um vício), mas no objeto da ação. Quanto mais virtude, melhor. A temeridade consiste numa caricatura ou deformação da coragem, não em seu excesso. P. ex., entregar-se ao perigo sem necessidade é temerário, e entregar-se ao perigo por um bem superior é coragem. O objeto é que é diferente, não a intensidade da virtude.    

Perante Deus, por exemplo, o valor objetivo de todo ser humano é minúsculo. Por isso meditar sobre a grandeza de Deus torna os homens humildes.

Rafael Falcon  

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