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Vivi muitas vidas numa só, atravessei situações entre malucas e
perigosas que a maior parte das pessoas não viu nem em imaginação, corri
toda sorte de riscos, conheci de perto
gênios, santos, heróis e bandidos, freqüentei os lugares mais temíveis e
os mais maravilhosos, mergulhei até o fundo da minha alma, vi horrores e
milagres, ouvi relatos íntimos de umas mil vidas humanas, li no mínimo
uns dois mil livros (além de outro tanto que belisquei) e, antes de
casar com a Roxane, tive umas setenta namoradas (até onde consegui
contar). Se existissem reencarnações, esses meus críticos que nunca
saíram da casa da mãe precisariam de umas duzentas antes de conseguir
entender uma só palavra do que eu digo.
Sei que o cristão deve ser homem de uma mulher só, mas, às vezes, para saber qual delas você tem de passar por muitas.
Cada amor que tive foi, naquele momento, para sempre. E cada um que
não foi vive ainda no meu coração. Na verdade, nenhum acabou: só o que
acabou foi a possibilidade de vivê-lo nesta vida. Só uma está condenada,
coitadinha, a agüentar o meu amor neste mundo até o nosso último
suspiro.
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