Se você comparar a figura do vampiro com aquilo que há em Crepúsculo, ou a estrige italiana com os bruxos de Harry Potter, ou o ideal monástico budista e a cavalaria medieval com os Jedi, é visível que esses produtos da "cultura pop" só usam a MÁSCARA de vampiros, bruxos, monges, etc. A estrutura narrativa, a psicologia das personagens, o sistema de valores contradizem na prática os símbolos usados para mascará-los. Essa contradição é o elemento FUNDAMENTAL do seu sucesso.
Rafael Falcón Comecei
a perceber isso quando a coisa foi levada ao extremo, por exemplo, no
"vampiro vegetariano" de Crepúsculo; mas a verdade é que o processo já
estava em curso quando Anne Rice tentou humanizar a monstruosidade do
vampiro. Aquilo já era uma contradição simbólica profunda, e por isso
mesmo fez sucesso.
Mauro Pennafort E isso tudo se inclui, num âmbito maior, no processo geral de levar as pessoas a cultuarem os anjos caídos.
Rafael Falcón É pior do que cultuar: subestimar. Transformá-los em seres humanos, falíveis, vulneráveis, compreensíveis -- e amáveis, claro.
Mauro Pennafort Você
tocou num ponto muito importante: a imensa maioria da humanidade JÁ
CULTUA anjos caídos. Fato! Esses caras já estão na próxima etapa,
transformando em bichinhos de estimação.
Mauro Pennafort Uma ilusão de inofensibilidade.
Rafael Falcón Uma
vez eu disse a um amigo, no começo da minha conversão, que não me
parecia existir um demônio. Ele olhou pra mim com o canto do olho e
sussurrou: "é isso mesmo que ele quer que você pense".
Juliana Rodrigues PS: quer dizer, eu acho que vem de antes. Não me lembro da data da publicação dos livros da Anne Rice, por exemplo.
Camila Hochmüller Abadie Um livro bom que fala sobre essa estratégia do capeta é "Cartas do inferno", do Lewis.
Camila Hochmüller Abadie Aqui no Brasil foi na década de 90, Ju.
Rafael Falcón Como eu disse abaixo, o processo de glamourização dos monstros data pelo menos do século XIX.
Juliana Rodrigues Sim,
sim, não era uma objeção, em hipótese alguma. Só me lembrei de outras
coisas como estas que exemplificaste enquanto ia lendo...
Matheus Schwingel Rafael Falcón Frankenstein de Mary Shelly é um exemplo, ou apenas a posterior glamorização dele?
Mauro Pennafort A ideia é a mesma da esquerda de sempre: transformar o bandido em vítima.
Rafael Falcón Matheus Schwingel é um exemplo. Frankenstein faz mal pra cabeça.
João Pedro Magalhães Camargo E tudo terminou no Digimon e Pokemon.
Juliana Rodrigues PS2:
não só li a Anne Rice, como escrevi o meu segundo livro não publicado
sobre vampiros, sob influência dela. Mal sabia eu que poderia ter me
tornado precursora de Stephenie Meyer. Emoticon tongue - Pelo menos, eu poderia estar rica.
Gustavo André Não acha que Anne Rice tentou buscar algo parecido ao que a Shelley fez com o Franskenstein? Encontrar a humanidade no monstro?
Rafael Falcón Gustavo André acho.
Gustavo André Rafael Falcón
O vampiro já foi humano no fim das contas, não é? Faz ao menos duas
décadas que li Entrevista com o Vampiro e me lembro de ter sido uma boa
experiência. O Drácula, então, pela narrativa em forma de cartas, que no
período não me agradava muito,
pareceu-me menos denso. Faz muito tempo, mas mesmo no Drácula lembro-me
de ter visto traços de tragédia humana em alguns momentos, apesar do
foco do livro ser a monstruosidade do ser. Já assistiu Nosferatu de
Murnau? Ainda preciso ver esse.
Rafael Falcón Gustavo André você não está entendendo nada. Releia o update e os comentários com mais atenção.
Henrique Garcia Seria uma estratégia desenhada para "achatar" o ideal, de modo que se torne mais palatável para o homem-massa?
Cristina Pedrosa Garabini Em resumo, seria demoníaco?
Paulo Rocha Rafael Falcón, existe algum livro de ficção cientíca que preste?
Rafael Falcón Não sei, e não leio mais essas coisas. A imaginação humana, deixada solta, enlouquece.
Paulo Rocha Rafael Falcón,
não sei se alguém já te fez essa pergunta, mas como uma pessoa adquire o
prazer da leitura? Você deixaria a pessoa ler o que bem entendesse ou
usaria uma outra estratégia pra atingir essa meta? Te pergunto isso pois
muitas pessoas, até c...Ver mais
Leonardo Augusto Uma
das causas de eu ter me tornado seu aluno e começado um auto-exame
sobre meus preconceitos contra o cristianismo, foi o Senhor dos Anéis.
Longe me mim querer equiparar a obra da Stephenie Meyer com a do Tolkien, mas gostaria de ler uma análise sua sobre a qualidade simbólica das obras de Tolkien.
Longe me mim querer equiparar a obra da Stephenie Meyer com a do Tolkien, mas gostaria de ler uma análise sua sobre a qualidade simbólica das obras de Tolkien.
Rafael Falcón Tolkien
é o que pode haver de melhor em literatura de fantasia, logo abaixo dos
contos de fadas. O único problema com ele é a escolha do gênero. Ao
criar o universo todo do zero, ele se impôs um peso sobre-humano, e é só
por isso que não alcançou a profundidade de um grande clássico.
Leonardo Augusto Certamente
não há equiparação entre Tolkien e um grande clássico. Mas para mim
ficou de exemplo como uma obra moderna e blockbuster pôde ter causado um
efeito positivo e aspirado à níveis mais elevados de leitura.
O de C
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