quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Acho engraçado quando jornalistas e blogueiros querem investigar por que coisas como Crepúsculo fazem sucesso. Fui fã de Harry Potter e Star Wars, fanzão mesmo, e sei muito bem qual é a resposta. O motivo do seu sucesso é o uso de símbolos impressionantes, não raro tirados do imaginário tradicional, dentro de uma moldura cognitiva COMPLETAMENTE RETARDADA (e por isso aceitável aos leitores, espectadores, etc.). O resto é sorte, contatos, agentes literários e marketing.

Se você comparar a figura do vampiro com aquilo que há em Crepúsculo, ou a estrige italiana com os bruxos de Harry Potter, ou o ideal monástico budista e a cavalaria medieval com os Jedi, é visível que esses produtos da "cultura pop" só usam a MÁSCARA de vampiros, bruxos, monges, etc. A estrutura narrativa, a psicologia das personagens, o sistema de valores contradizem na prática os símbolos usados para mascará-los. Essa contradição é o elemento FUNDAMENTAL do seu sucesso.

Rafael Falcón Comecei a perceber isso quando a coisa foi levada ao extremo, por exemplo, no "vampiro vegetariano" de Crepúsculo; mas a verdade é que o processo já estava em curso quando Anne Rice tentou humanizar a monstruosidade do vampiro. Aquilo já era uma contradição simbólica profunda, e por isso mesmo fez sucesso.
Mauro Pennafort E isso tudo se inclui, num âmbito maior, no processo geral de levar as pessoas a cultuarem os anjos caídos.
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Rafael Falcón
Rafael Falcón É pior do que cultuar: subestimar. Transformá-los em seres humanos, falíveis, vulneráveis, compreensíveis -- e amáveis, claro.
Mauro Pennafort
Mauro Pennafort Você tocou num ponto muito importante: a imensa maioria da humanidade JÁ CULTUA anjos caídos. Fato! Esses caras já estão na próxima etapa, transformando em bichinhos de estimação.
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Mauro Pennafort
Mauro Pennafort Uma ilusão de inofensibilidade.
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Rafael Falcón
Rafael Falcón Uma vez eu disse a um amigo, no começo da minha conversão, que não me parecia existir um demônio. Ele olhou pra mim com o canto do olho e sussurrou: "é isso mesmo que ele quer que você pense".
Juliana Rodrigues
Juliana Rodrigues Acho que o pior é que emburrece mesmo. O certo e o errado se misturam. Mas, isto já vinha de antes, basta ver o endeusamento dos gênios seriais killers do cinema. Todos são eruditos, ouvem música clássica, são calculistas etc.
Juliana Rodrigues
Juliana Rodrigues PS: quer dizer, eu acho que vem de antes. Não me lembro da data da publicação dos livros da Anne Rice, por exemplo.
Camila Hochmüller Abadie
Camila Hochmüller Abadie Um livro bom que fala sobre essa estratégia do capeta é "Cartas do inferno", do Lewis.
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Camila Hochmüller Abadie
Camila Hochmüller Abadie Aqui no Brasil foi na década de 90, Ju.
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Rafael Falcón
Rafael Falcón Como eu disse abaixo, o processo de glamourização dos monstros data pelo menos do século XIX.
Juliana Rodrigues
Juliana Rodrigues Sim, sim, não era uma objeção, em hipótese alguma. Só me lembrei de outras coisas como estas que exemplificaste enquanto ia lendo...
Matheus Schwingel
Matheus Schwingel Rafael Falcón Frankenstein de Mary Shelly é um exemplo, ou apenas a posterior glamorização dele?
Mauro Pennafort
Mauro Pennafort A ideia é a mesma da esquerda de sempre: transformar o bandido em vítima.
Rafael Falcón
Rafael Falcón Matheus Schwingel é um exemplo. Frankenstein faz mal pra cabeça.
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João Pedro Magalhães Camargo
João Pedro Magalhães Camargo E tudo terminou no Digimon e Pokemon.
Juliana Rodrigues
Juliana Rodrigues PS2: não só li a Anne Rice, como escrevi o meu segundo livro não publicado sobre vampiros, sob influência dela. Mal sabia eu que poderia ter me tornado precursora de Stephenie Meyer. Emoticon tongue - Pelo menos, eu poderia estar rica.
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Gustavo André
Gustavo André Não acha que Anne Rice tentou buscar algo parecido ao que a Shelley fez com o Franskenstein? Encontrar a humanidade no monstro?
Rafael Falcón
Gustavo André
Gustavo André Rafael Falcón O vampiro já foi humano no fim das contas, não é? Faz ao menos duas décadas que li Entrevista com o Vampiro e me lembro de ter sido uma boa experiência. O Drácula, então, pela narrativa em forma de cartas, que no período não me agradava muito, pareceu-me menos denso. Faz muito tempo, mas mesmo no Drácula lembro-me de ter visto traços de tragédia humana em alguns momentos, apesar do foco do livro ser a monstruosidade do ser. Já assistiu Nosferatu de Murnau? Ainda preciso ver esse.
Rafael Falcón
Rafael Falcón Gustavo André você não está entendendo nada. Releia o update e os comentários com mais atenção.
Gustavo André
Gustavo André Não havia lido os comentários. De fato, tudo isso que vocês disseram atinge seu ápice (ou fundo) no desenho infantil Monster High. Pude perceber isso quando fui em um aniversário temático do Monster High no qual o convite era a réplica de um caixão.

Henrique Garcia Seria uma estratégia desenhada para "achatar" o ideal, de modo que se torne mais palatável para o homem-massa?
Rafael Falcón
Rafael Falcón É mais ou menos isso. O símbolo precisa ser reabsorvido por meio da falsificação. O processo começa no século XIX, com a literatura romântica, ainda tímido, transformando tudo o que é misterioso em "sentimento subjetivo".

Cristina Pedrosa Garabini Em resumo, seria demoníaco?
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Rafael Falcón
Rafael Falcón Não, não. É do interesse do demônio, mas não é algo que represente a essência dele. Só lhe interessa justamente porque ajuda a ocultá-lo.

Paulo Rocha Rafael Falcón, existe algum livro de ficção cientíca que preste?
Rafael Falcón
Rafael Falcón Não sei, e não leio mais essas coisas. A imaginação humana, deixada solta, enlouquece.
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Paulo Rocha
Paulo Rocha Rafael Falcón, não sei se alguém já te fez essa pergunta, mas como uma pessoa adquire o prazer da leitura? Você deixaria a pessoa ler o que bem entendesse ou usaria uma outra estratégia pra atingir essa meta? Te pergunto isso pois muitas pessoas, até c...Ver mais
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Rafael Falcón
Rafael Falcón Eu sentia muito mais prazer aos oito anos lendo o Homem-Aranha do que sinto hoje lendo Camões. Não é questão de prazer, mas de utilidade para a vida. Se a criança estiver entendendo os clássicos, ela vai amá-los porque eles a ajudam na vida. É só isso.

Leonardo Augusto Uma das causas de eu ter me tornado seu aluno e começado um auto-exame sobre meus preconceitos contra o cristianismo, foi o Senhor dos Anéis.
Longe me mim querer equiparar a obra da Stephenie Meyer com a do Tolkien, mas gostaria de ler uma análise sua sobre a qualidade simbólica das obras de Tolkien.
Rafael Falcón
Rafael Falcón Tolkien é o que pode haver de melhor em literatura de fantasia, logo abaixo dos contos de fadas. O único problema com ele é a escolha do gênero. Ao criar o universo todo do zero, ele se impôs um peso sobre-humano, e é só por isso que não alcançou a profundidade de um grande clássico.
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Leonardo Augusto
Leonardo Augusto Certamente não há equiparação entre Tolkien e um grande clássico. Mas para mim ficou de exemplo como uma obra moderna e blockbuster pôde ter causado um efeito positivo e aspirado à níveis mais elevados de leitura.
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Rafael Falcón
Rafael Falcón Não é blockbuster, assim como se Holywood fizer um filme da Ilíada, como fez, Homero não vai virar blockbuster. Tolkien era um escritor de verdade.

O de C

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