Se, excetuados alguns poucos homens honestos, em número demasiado
reduzido para empreender qualquer ação significativa, os políticos,
juízes e altos funcionários perderam todo senso do dever e da utilidade
pública, então, com certeza, não se curvarão a nenhuma autoridade moral,
mesmo na improvável hipótese de que alguma venha a surgir do nada.
Submetê-los e obrigá-los a fazer o bem pela força é igualmente
impossível, pelo simples fato de que aquilo que não existe nada impõe. Que
o próprio povo se erga e se autoconstitua como autoridade moral é
improvável, já que boa parte da energia do movimento popular foi
desviada em benefício da classe política. Só resta então uma saída:
homens corrompidos só obedecem ao corruptor. O que deve seguir-se nos
próximos meses é uma disputa de poder, não sei se feroz ou branda, entre
duas grandes quadrilhas ou esquemas de corrupção. Para sobreviver,
mesmo em condições humilhantes, a quadrilha que hoje está no governo
terá de fazer grandes concessões à sua concorrente, ao mesmo tempo que
ambas se esforçam para reforçar o controle que exercem sobre a
população.
A candidatura Bolsonaro e a Operação Lava-Jato são duas sementes --
nada mais que sementes -- de uma possível autoridade moral. Suas fontes
de sustentação constituem-se apenas de uma opinião pública difusa e de
parte das autoridades policiais. A atitude das Forças Armadas é ainda
uma incógnita.
O de C
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