quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Após os protestos de março de 2015, o passo seguinte tinha de ser, obrigatoriamente, a ORGANIZAÇÃO DA MASSA em comitês permanentes, com uma linha de comando e uma rede de comunicações. Incapazes de dar esse passo, os líderes emergidos do nada preferiram entrar em lindas discussões sobre hipóteses irrealizáveis e estão nisso até hoje. Um concurso de poses.

Quando, quando, quando, puta merda, vão parar com o teatrinho e começar a ORGANIZAR A MASSA -- não para protestos de domingo, mas para ações permanentes?

Se o foco de tudo for apenas "derrubar a Dilma", isso só poderá ser feito, no momento, por meio da classe política, reduzindo a massa à condição de pedinte e reforçando o estamento burocrático que há décadas esmaga o país.
Uma ação de maior envergadura, necessária e urgente, supõe a organização da massa, que, obcecados pelo fetiche "Dilma" e pelo slogan "impeachment", os distintos "líderes" nem começaram ainda.

"Tirar a Dilma"? E de que serve isso, depois que -- só para dar um exemplo -- milhares de tipos como Luciano Ayan, Pirrôlas, Sakamotos e tutti quanti já viraram "formadores de opinião"?
Quem pode acreditar que a mera destruição de um cadáver vai recolocar o Brasil nos eixos? A degradação mental e moral do país já foi fundo demais, a esta altura o impeachment da Dilma é só sacrifício inócuo de um bode expiatório.
Vocês já se esqueceram do ministro da Educação do FHC, Paulo Renato, que, quando os estudantes brasileiros tiraram o último lugar no teste do PISA, disse que "poderia ter sido pior"? Isso foi uns TREZE anos atrás.

Vocês acham MESMO que a escala de valores morais do FHC é diferente da do Lula?

Protestos de rua só servem para completar ou começar a organização da massa. Qualquer "community organizer" de doze anos de idade sabe disso. Sem organização da massa, esses protestos têm no máximo um papel propagandístico, mas toda propaganda se dirige a um alvo ao qual transfere o verdadeiro poder de ação. No Brasil esses protestos viraram fetiches, sacrifícios de galinhas pretas no altar da classe política. O do dia 13 só tem por finalidade consagrar o Parlamento corrupto como salvador da pátria. É melhor do que o PT no poder? É, mas só um pouquinho.

Para uns certos fulanos, "democracia" é tucanato. Tudo o mais é golpismo, militarismo e extremismo. É compreensível que se apeguem a esse truque de linguagem. Não têm mais nada a oferecer além dos mitos fundadores da "Nova República".

Destruir a Dilma para salvar a "Nova República" é abortar um bebê para salvar a mãe.

Corrupção, comunismo, criminalidade galopante e degradação da sociedade são os produtos mais perfeitos e acabados da "Nova República". Ela foi criada PARA ISSO. Salvá-la é matar o Brasil.

A Nova República foi a vingancinha e a chance áurea dos esquerdistas. Frustrados por vinte anos, voltaram com uma fome dos diabos e não pararam de comer desde então. Nem vão parar agora. A Dilma, a esta altura, é só um osso de frango que voa pela janela do restaurante.

É impossível uma pessoa adulta em seu juízo perfeito não perceber que a "Nova República" veio para entregar o poder, eternamente, ao conluio PT-PSDB, com o PMDB no meio a título de vaselina.
Se aceitarem o impeachment da Dilma, legitimando a eleição fraudulenta uma vez que só pode sofrer impeachment o governante legitimamente eleito, qual pretexto haverá para NÃO entregar a presidência ao Michel Temer? E como será possível, depois disso, processar os fraudadores de uma eleição que o Parlamento acabou de confirmar como legítima pela segunda vez?
Submeter a Dilma a impeachment é salvar, no ato, a Smartmatic, o Toffoli, o STE e o STF inteiros.
Todo brasileiro consciente e patriota luta pela CASSAÇÃO DOS MANDATOS, não pelo impeachment.

O impeachment é um recurso válido numa democracia normal em pleno funcionamento. Lutar por ele é impor ao povo a impressão de que o Brasil É essa democracia, não um regime farsesco em que só 23 pessoas têm acesso à contagem de votos na eleição presidencial. Todo adepto do impeachment é cúmplice dessa farsa, e não tem o mais mínimo respeito pelo povo cujos votos foram fraudados.
Por que raios, afinal, o PSDB e todos os mentores do MBL foram os primeiros a confirmar a legitimidade da eleição fraudulenta? Terá sido por patriotismo, por amor à honestidade e à decência?

No Brasil cada palpiteiro se considera líder de alguma coisa, e não é de estranhar que todos me tratem como se eu fosse um deles -- o ideólogo e chefe de uma facção política. Esse fenômeno, em si, já ilustra a confusão mental alucinante em que este país mergulhou.

É inconcebível, para pessoas famintas de cargos e chefias, acreditar que alguém simplesmente NÃO QUEIRA liderar coisa nenhuma e se contente com o seu papel de analista da situação.

Sou tão indiferente a essas coisas que JAMAIS passo palavras-de-ordem nem mesmo a entidades que eu mesmo fundei e que professam, livremente, seguir o que entendem ser a minha "orientação".

Criei essas entidades para estimular o debate e não para dirigi-lo. Para cada Zé-Ruela que sonha em ser o salvador da pátria, isso é inconcebível.

Como desapareceu a alta cultura e só sobrou a política, quem quer que tente agir na esfera da alta cultura será ouvido como político.

O impeachment só serve como mal menor. Mas não muito menor.

Também é inconcebível, a pessoas afetadas da síndrome de Dunning-Kruger, admitir que alguém reconheça suas limitações e se contente em fazer o que sabe.

A maior parte das pessoas não raciocina mediante conceitos, mas mediante símbolos aglutinadores, sínteses confusas. Não capta sequer a diferença entre impeachment e cassação de mandato. A palavra "impeachment" virou símbolo da cirurgia salvadora, e a maioria nem percebe que, em vez de realizá-la, ele vai trocá-la por um chazinho.

Graças ao PSDB, ao MBL e similares, o Brasil trocou uma revolução libertadora por um tubo de xilocaína.

É curioso como isso se encaixa precisamente na tradição conciliadora que Paulo Mercadante descreve em "A Consciência Conservadora no Brasil" -- tradição que, é claro, não se volta contra o estamento burocrático, mas, ao contrário, é a base permanente e permanentemente renovada do seu poder.

Como não perceber que MBLs e similares NÃO QUEREM organizar a massa precisamente porque desejam apenas usá-la como instrumento de pressão difusa numa estratégia em que o essencial da iniciativa está nas mãos da classe política?

Conservar a iniciativa nas mãos da classe política, tomando-a do povo que a possuiu por uns breves momentos, é o que tantos hoje entendem por "democracia", chamando tudo o mais de golpismo e extremismo. Essa gente é tão desonesta e manipuladora quanto qualquer João Santana.

Depois de tudo o que fiz e faço, sozinho e pagando alto preço, ainda vem gente exigir que eu volte ao Brasil para desempenhar o que lhes parece ser a missão mais nobre do mundo: concorrer com o Kim Katacokinho e o Fabio Bostermann na liderança dos movimentos. Vão à PQP.

Num país de dimensões continentais, com uma capital escassamente povoada e distante dos centros mais populosos, só um cretino de marca pode imaginar que grandes manifestações de rua devem ser o instrumento principal de luta contra um governo. Organização da massa, combate ideológico local, ocupação de espaços, desobediência civil, panelaços, vaias e protestos concentrados em alvos individuais são MUITO mais eficientes. Também é claro que esses meios devem ser usados não como meio de pressionar a classe política, mas como instrumentos diretos de desmantelamento da cadeia de comando.

Não recomendei a ninguém que apoiasse ou boicotasse a passeata do dia 13. Não disse uma porra de uma palavra a respeito, e já apareceram centenas de malucos discutindo as opiniões imaginárias que me atribuem.

A partir de março de 2015, o Brasil tinha dois caminhos possíveis: organizar a massa, partir para a desobediência civil e, derrubando o sistema, criar uma democracia efetiva; ou maquiar a crise, transferindo a iniciativa da massa para os velhos políticos de sempre, concentrando a indignação pública num alvo simbólico -- a sra. Dilma Rousseff -- e salvando a "Nova República", isto é, o estamento burocrático que criou o PT e lhe entregou o poder. Era uma escolha entre a revolução e a farsa. A primeira hipótese parece superada. O momento foi perdido. Resta agora dar à palhaçada os ares de um feito heróico, com muitos discursos patrióticos, lágrimas de civismo e todo mundo cantando o Hino Nacional com a mão no coração, como nos versos épicos de "Batatinha quando nasce".

A geração do Reinaldo Azevedo (à qual pertenço cronologicamente mas não moralmente) está presa numa visão hipnótica na qual só existem duas forças: a "Nova República" e a "ditadura militar". Vendo com horror a hipótese de um golpe militar que os militares não querem dar de jeito nenhum, defendem a "Nova República", de unhas e dentes, contra um perigo inexistente e não percebem que, de fato, ELA é o único perigo. As grandes tragédias e derrotas nascem quando os homens se apegam a hábitos cognitivos consagrados e não enxergam o que está bem diante do seu nariz.

Em março de 2015 a escolha era esta: Ou derrubávamos o estamento burocrático e criávamos uma democracia de verdade, ou pedíamos que ele derrubasse a Dilma por nós e continuasse lá em cima todo pimpão. O MBL foi criado para que esta última alternativa prevalecesse, e tudo indica que vai conseguir.

O primeiro, mais inevitável e mais profundo efeito do impeachment será salvaguardar de toda punição os fraudadores da eleição presidencial.

Se você não sabe fazer política exceto por meio dos deputados e senadores que você mesmo elegeu, eles serão sempre os comandantes e você o comandado. Um dia o Reinaldo Azevedo perceberá o erro monstruoso que cometeu ao pensar que isso é democracia.

O de C

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