Deveria ser óbvio e auto-evidente, para todo principiante no estudo
da literatura, que, se um autor só publicou livros a partir de
determinada data, tudo o que ele fez antes são apenas etapas de um
aprendizado, que pode ter sido longo, sinuoso e repleto de contradições,
e não partes integrantes da sua obra ou expressões do seu pensamento
maduro. Mais óbvio ainda deveria ser que tanto os lances dessa formação
embrionária quanto, depois disso, ditos ocasionais proferidos aqui e
ali e não recolhidos em livro não representam o seu pensamento formal e
acabado e que, se podem ser usados como detalhes biográficos adicionais
para a compreensão da sua obra, jamais podem prevalecer sobre o estudo
direto desta última, nem muito menos substituí-lo, dispensando-o.
Por isso é que tenho a CERTEZA de que, de todos os meus pretensos
críticos, nenhum tem ainda sequer a envergadura intelectual de um
principiante no estudo da literatura. Alguns não alcançarão essa
estatura jamais. Outros, talvez em vinte ou trinta anos.
Não digo
isso com um intuito qualquer de autodefesa, que é totalmente
desnecessária, mas como testemunho direto de um fenômeno cultural dos
mais alarmantes, que já basta, por si, para atestar um estado de inépcia
geral e endêmica no qual já se entrevê a razão suficiente da debacle
política e do fracasso nacional em todos os domínios.
Se cinqüenta por cento dos formandos das nossas universidades são
analfabetos funcionais, é óbvio que também o são cinqüenta por cento dos
jovens professores universitários, jornalistas, políticos e formadores
de opinião em geral. E aonde os entusiastas das "novas gerações"
pretendem chegar, aonde pretendem que o país chegue por meio de um
debate público entre analfabetos funcionais?
A expressão mais pura da cultura nacional do momento é aquela moça
que, num vídeo do Youtube, complica o que não entende e pronuncia
"strogonoff" GOSTREFENOFF. A estupidez nunca é simplória.
A fórmula é: Se você não entende alguma coisa, complique-a. Pelo menos dá uma impressão de requinte.
Sto.Tomás ensinava que não há ação sem agente. O problema não é COMO
resolver os problemas nacionais. O problema é: QUEM vai resolvê-los?
O de C
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