quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O Eric Voegelin relia as obras completas de Shakespeare uma vez por ano. Manuel de Barros ou Adelia Prado você lê uma vez e nunca mais. Não venha me dizer: "Ah, mas eu gosto!" Eu gosto do Bigmac, e daí? Isso faz dele um grande valor pedagógico, uma luz para a humanidade sofredora?

Qualquer um pode gostar de coisas que não são de proveito para mais ninguém. Quando criança, eu gostava dos meus soldadinhos de chumbo. Vocês ganharam alguma coisa com isso?

Voltaire, o guru do Rodrigo Cocô, achava as peças de Shakespeare uns cocôs. Alguém ainda lê as peças de Voltaire?

Hugo de S. Vítor dizia: "Não se pode ensinar filosofia a um aluno que tem saudades da cabaninha onde nasceu." Desapegar-nos dos nossos gostinhos e aprender a sentir como as outras pessoas sentem é uma das coisas que a literatura ensina. Crescer é aprender a amar aquilo que TODOS devem amar.

Quando neném, eu me apegava, para dormir em paz, à minha chupeta. Hoje apego-me às palavras do Pai Nosso.

O maior filósofo do mundo é provavelmente John Deely. O que o estraga é que ele é um mau escritor.

Se eu tivesse a existência protegida e aprazível de um acadêmico americano, minha obra seria toda organizadinha. Com milhares de MAVs e Veadascos torrando diariamente o meu saco em torradeira elétrica, faço só o que posso.

Tenho um precedente honroso: na vida agitada do jornalismo, da política, das perseguições e do exílio, José Ortega y Gasset JAMAIS TERMINOU UM LIVRO.

Minha vida foi tão variada, agitada e complicada que só um gênio da biografia poderia dar conta dela. Veadascos e Mirians Macedos, presumindo-se capazes de lidar com o assunto, movidos aliás pelo único propósito de provar logo que sou um filho da puta, só conseguem é ficar cada vez mais doidos.

Eu mesmo não me considero capaz de escrever minha biografia. Fico perdido na multidão de acontecimentos.

Das coisas que eu amava na minha infância, algumas tinham valor permanente e as amo até hoje. A minha Igreja ou os bons exemplos que recebi da minha mãe estão entre elas. As outras são apenas curiosidades biográficas.

A obra de Leibniz é uma mixórdia sem fim, mas ele conseguiu resumir tão bem o essencial da sua filosofia em dois livros curtos -- Monadologia e Tratado de Metafísica --, que a organização dos seus textos para publicação continua até hoje e nem por isso seu pensamento é desconhecido.

Entre escritores e filósofos, há espíritos construtivos e espíritos reativos. Estes precisam de algum estímulo exterior para se por em marcha, e por isso todos os seus escritos são de ocasião. Meu precedente mais ilustre, nisso, é o próprio Leibniz. Entre os construtivos, Kant e Hegel são exemplos típicos.

O de C

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